Au pair en France

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sexta-feira, 25 de abril de 2014

Prefeitura parte 2

Espero que vocês tenham tido um bom feriado de Pascoa. Como de praxe fui pra casa da minha irma na Alemanha, que agora fica somente a 400km daqui. Sao 4h30 de viagem pela autoestrada alema, que nao tem limite de velocidade...

Entao, vou continuar contando como foi o primeiro dia oficial da nova equipe (sabado), um dia depois da posse, realizada na sexta-feira à noite. Chegamos na prefeitura às 9h da manha. Tava todo mundo so o bagaço da laranja de tao cansado! Ha 15 dias corriamos de um lado pro outro pra fazer campanha, bolar estratégias, etc. E finalmente estavamos aliviados de nao vermos mais a cara do antigo prefeito (que era um senhor-jararaca sacana e mal amado por muitos).

Começamos a trocar todas as fechaduras porque dizem as mas linguas que o ex-prefeito tinha nao sei quantas copias das chaves de la. Os vereadores dele nao tinham um pingo de autoridade porque ELE mandava em todos e concentrava todo o serviço pra ELE fazer. Gritava com eles e proibiam-os de entrar em alguns cômodos da prefeitura. So por ai vocês tem noçao do velhote mala que ele é. Se ele estava no escritorio dele e ia ao banheiro, ele trancava a porta da sala dele. Pode isso? O cara é James Bond 007 ou o que???

Vocês imaginam entao a curiosidade do pessoal de entrar justamente nessas 'salas secretas' do ex-prefeito. Todo mundo correu pra abrir as portas e, claro, choravamos de rir porque sabiamos que ia ser como descobrir a caverna do Ali Baba! No segundo andar, onde nenhum vereador tinha botado os pés até entao (!!!!!!!!!), com exceçao do velho rabugento, os atuais vereadores se precipitavam pra ver o que tinha la em cima!!! Surpreeeesa!!! A esposa do atual prefeito, que era uma dessas vereadoras traumatizadas e mal tratadas pelo velhote, foi a primeira a subir, felizinha da vida!! Agora eu posso, disse ela! Hahahah!

Chegando la em cima, três cômodos e muuuuuito acaro e poeira! Pensei comigo: to frita, minha alergia vai me atacar agora! Mas eu estava mais preocupada em descobrir o que tinha la do que em ficar doente, assim como os demais! As janelas estavam fechadas ha uns 4 anos, quando uma senhora que morava la em cima (era alugado pra ela) faleceu. Resultado: a gente se sentia num castelo mal assombrado porque tinha aranha no teto e nas janelas. Começamos a futucar tudo e encontramos uma tela com o retrato de um arcebispo que ja morreu ha no minimo uns 80 anos!! Descobrimos plantas da cidade feitas à mao com caneta tinteiro!! Descobrimos documentos da época em que a cidade ainda pertencia à Alemanha, na época das guerras, com o simbolo nazista!! Caramba, foi como se eu tivesse entrado num tunel do tempo e revivido tudo aquilo com eles! Descobrimos livrinhos da cidade com foto dos filhos dos atuais vereadores quando ainda eram crianças e hoje ja sao adultos!! Muito bacana!!

Pra relembrar vocês, a minha regiao foi alema e francesa três vezes! Praticamente todas as pessoas de idade e seus filhos, hoje adultos, falam alemao por conta disso. A Alsácia-Lorena (Alsace-Lorraine, em francês) é um território de população germânica, originalmente pertencente ao Sacro Império Romano-Germânico, tomado por Luís XIV da França depois da Paz de Vestfália em 1648. Depois foi devolvido pela França à Alemanha recém-unificada, conforme o Tratado de Frankfurt (10 de Maio de 1871), que encerrou a Guerra Franco-Prussiana. Depois foi retomado pela França após a Primeira Guerra Mundial, nos termos do Tratado de Versalhes, de 1919. Depois foi anexado pelo Terceiro Reich alemão em 1940, durante a Segunda Guerra Mundial, e finalmente foi retomado pela França em 1945.

O território, atualmente chamado Alsácia-Mosela, compreende os departamentos do Alto e do Baixo Reno (formando a Alsácia) e o departamento do Mosela (que forma a parte oriental da Lorena, incluindo a cidade em que moro). A região de Alsácia-Lorena foi alvo de tensão entre as relações germano-francesas até a dissolução do Terceiro Reich em 1945. A anexação prussiana da região após a Guerra Franco-Prussiana foi um dos motivos que levaram a França a declarar guerra contra o Império Alemão em 1914.

Qualquer hora volto aqui pra contar sobre o sofrimento dos moradores da regiao na época das guerras. Quando a regiao voltava a ser alema, eles eram obrigados a serem alemaes, quando a França tomava de volta, eram obrigados a voltarem a ser franceses.... uma confusao....

Depois dessas descobertas, mudamos varios moveis de lugar, demos faxina e jogamos muita coisa fora, e finalmente demos cara de nova prefeitura, nova equipe, novas ideias! :) No salao de festas da prefeitura (aqui na França todas tem uma), fomos igualmente ver o segundo andar e descobrimos também coisas bacanas e historicas, mesmo que nao tao antigas. Um dos atuais vereadores, que deve ter uns 36 anos, chorou ao ver os moveis que estavam na escola quando ele ainda era criança, por exemplo aquelas mesas-cadeira grudadas, onde duas crianças se sentavam uma ao lado da outra. Perguntei pra ele se ele lembrava que a gente colava chiclete em baixo dessas mesas pra pregar a cola da prova, hahha! Ele encontrou também uma grade que ficava na saida da sala de festas, onde ele e os amigos ficavam sentados ou escorados durante horas pra conversar fiado quando eram crianças. Foi uma experiência muito bacana vivenciar esse tipo de coisa.

Pra terminar, encontramos na propria prefeitura um Minitel, pequeno terminal de consulta de banco de dados comerciais existentes nos Correios, nas Telecomunicações e nas Teledifusões existentes na França. Ele havia sido lançado em 1982!

 
Espero que tenham gostado de viajar comigo nesse tunel do tempo!
 
Ps: depois dessa aventura minha alergia atacou por conta da poeira e dos acaros no segundo andar da prefeitura! mas valeu! :)


3 comentários:

Anônimo disse...

Caramba, Lorena, que história !!!! Isso tinha que ser filmado, registrado em imagens ! Espero que vocês não tenham jogado fora os documentos antigos, os mapas e etc escritos com caneta tinteiro, essas coisas. Além disso tudo, o fato dessa região ter sido alemã-francesa é uma coisa que a torna meio sui-generis, não é ?
beijão João São Paulo

Lo disse...

Ei Joao, incrivel, ne? Entao, nao jogamos fora os documentos nao!! Total sui-generis! Uma historia maravilhosa, apesar de traumatizante! beijao!

Anônimo disse...

Quem sabe não dá pra organizar um museu com tantas peças históricas? Um abraço! Livia farias